Histórias íntimas

Conheci pessoalmente a escritora e historiadora Mary Del Priore durante a 2ª Bienal do Livros de Minas. Carismática, ela distribuiu simpatia durante um café literário com Zuenir Ventura. A conversa agradável me incentivou a ler o livro Histórias íntimas – Sexualidade e erotismo na história do Brasil (Editora Planeta).

Nos cinco séculos da história brasileira, a sexualidade sempre foi um assunto bastante presente na vida de homens e mulheres. Quando ainda era chamado de Terra de Santa Cruz, a nudez de nosso povo deixava em alvoroço os portugueses com tanta liberdade, mas também já importava os costumes pudorosos dos europeus. Desde então a Igreja Católica a todo custo buscava uma vida de virtude para os cidadãos tupiniquins. Mas Mary deixa claro que isso só botava mais lenha na fogueira e reafirmava que o proibido é mais gostoso. Haja visto que o lugar preferido para encontros de casais era justamente a igreja.

O bom-humor de Mary e a pesquisa apurada mantêm um ritmo fluido do texto e revela as histórias mais picantes da família real portuguesa, expondo casos extra-conjugais, manias um tanto esquisitas e a lista extensa de amantes dos nobres soberanos.

Nesta época era comum as mulheres se enfeiarem, vaidade estava fora de cogitação. Os homens deviam dormir de costas, pois temperatura alta na lombar estimulava a região sexual. Privacidade então não existia. Os quartos não eram trancados e intimidade mesmo só em moitas e arbustos. Era só levantar o saião e descer as ceroulas.

A posição da mulher na sociedade também é um assunto bastante frequente no livro, que vem destrinchando a questão desde os tempos em que a mulher era vista como “vaso”, até o controverso título de “rainha do lar”, a criação da pílula anticoncepcional e ao apoderamento de sua sexualidade. É nada fica de fora, a sociedade machista brasileira, especialmente no período colonial que os diga. O aborto, a pedofilia, a prostituição e a homossexualidade são tratados sob o viés da história, proporcionando ao leitor a construção do entendimento no desenrolar dos fatos na atualidade.

O livro, que tem a capa bastante sugestiva, ainda traz fotos no miolo que ajudam  na contextualização com a maneira com Mary Del Priore conduz a sua pesquisa, que além dos livros, cartas e antigos escritos, privilegia bastante a consulta a revistas e jornais de época.

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